Teologia da Prosperidade: veja alguns dos seus principais erros e características
Muitas pessoas já ouviram falar da Teologia da Prosperidade, até sabem um pouco do que se trata. Associam facilmente essa teologia a figuras como Edir Macedo, RR Soares, Valdomiro Santiago, Estevam Hernande, Agenor Duque, entre outros.
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No entanto, a maioria não consegue diferenciar a Teologia da Prosperidade do que a bíblia realmente ensina sobre esse tema. Nosso objetivo aqui será fazer exatamente essa diferenciação com base nos textos bíblicos utilizados por alguns desses pregadores, a fim de que você possa compreender em quais circunstâncias a prosperidade é tratada pela Teologia Cristã.
O que é a Teologia da Prosperidade?
Não é Teologia, mas sim heresia religiosa. Teologia estuda os fenômenos do sentimento religioso humano manifestos de várias formas, geralmente voltados para Deus, deuses ou entidades espirituais. É uma área que atua no campo subjetivo das crenças, procurando compreender, também através dos métodos científicos de análise, qual é a relação desta com a existência humana.
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A heresia religiosa, por outro lado, mascara a realidade ao interpretar os fatos segundo os interesses de quem deseja, através da sua ideologia, controlar um determinado grupo ou influenciá-lo.
Sendo assim, “ideologia da prosperidade”, como da “libertação”, “morte de Deus”, da “inclusão”, “feminista” e etc., são correntes de pensamento que partem da teologia, sem, contudo, fazer uso dos mesmos métodos de pesquisa e análise critica da teologia tradicional, por isso alguns a chamam também de “teologia setorial”.
Ou seja, ideologias que apontam (ou criam) setores diferentes (políticos também) do pensamento teológico, sem, contudo, assumir os mesmos critérios de pesquisa e reflexão da teologia propriamente dita. Com isso podemos resumir que teologia da prosperidade é, na verdade, uma heresia religiosa que fala sobre um tema bíblico: a PROSPERIDADE.
Resumidamente, essa ideologia ensina que o ser humano foi criado para prosperar, sendo a prosperidade a maior evidência de Deus na vida humana.
Ao falar de prosperidade, dizem os adeptos não se tratar apenas de dinheiro, mas também de saúde, bem estar emocional, poderes sobrenaturais e até beleza física. Por esse motivo os “teólogos” da prosperidade geralmente dão ênfase ao neopentecostalismo, sendo frequentemente associados a esse outro movimento da teologia cristã.
De fato, o neopentecostalismo acolheu bem a ideologia da prosperidade, muito embora seus precursores, Essek William Kenyon e Kenneth Hagin não fossem inicialmente neopentecostais.
Ao que parece, à associação do movimento neopentecostal com o da prosperidade ocorre devido à ênfase no “sobrenaturalismo”, estando esse relacionado à ideia de “poder” dado por Deus aos humanos. Nesse caso, tal concepção faz o religioso pensar que sua autoridade baseada na “unção dada por Deus” lhe dá o DIREITO de ser próspero, bem sucedido, o melhor em tudo o que fizer.
Em outras palavras, o sobrenaturalismo que antes dizia respeito apenas ao poder sobre fenômenos espirituais, tais como possessão demoníaca, curas, visões e profecias, agora trata também de poder sobre a MATÉRIA, como sinônimo de “bênçãos do Senhor”.
A ideologia da prosperidade relaciona-se muito bem com o autoritarismo humano. A vontade de superioridade cultivada pelo ego encontra excelente abrigo nas igrejas onde a prosperidade é uma busca constante. O grande problema é o que muitos entendem sobre prosperidade quando comparado ao que Deus revela nas Escrituras bíblicas de modo contextual.
Texto fora de contexto é pretexto para heresia
Vamos analisar objetivamente alguns textos frequentemente usados pelos pregadores da prosperidade, segue:
Malaquias 3:10 – Malaquias em seu livro da ênfase aos Sacerdotes de Israel pela responsabilidade que eles têm de guiar o povo e lhes mostrar a vontade de Deus. No começo do livro ele diz “Peso da Palavra do Senhor contra Israel…”, abrangendo o discurso para todos que serão enquadrados na exortação de Deus ao seu povo, mas logo no versículo 6 ele diz:
“O filho honra o pai, e o servo o seu senhor; se eu sou pai, onde está a minha honra? E, se eu sou senhor, onde está o meu temor? diz o SENHOR dos Exércitos a vós, ó sacerdotes, que desprezais o meu nome. E vós dizeis: Em que nós temos desprezado o teu nome?”
No trecho acima Deus especifica seu discurso contra os SACERDOTES de Israel. Com isso podemos aprender três coisas:
01 – Deus cobra a honra devida ao seu nome, e pelo exemplo dado na relação de pai e filho, esta honra não tem absolutamente nada a ver com dinheiro, mas sim com TEMOR (leia-se: respeito!);
02 – Deus revela que a negligência humana faz com que ele seja desprezado;
03 – A negligência e o desprezo citados por Deus partem dos SACERDOTES, ou seja; dos líderes que deveriam ensinar o povo a honrar a Deus, mas não ensinam, porque eles mesmos não honram, consequentemente o povo tende a cometer os mesmos erros.
Os líderes atuais da prosperidade interpretam essa honra como sendo o ato de dizimar e ofertar, um engano fatal. A honra reivindicada por Deus em todo livro de Malaquias se refere ao caráter e intenções de quem oferta e dizima.
Os dízimos e ofertas tratados nesse livro são símbolos de uma relação de fé entre o ser humano e Deus. Por isso está escrito: “Eu não tenho prazer em vós, diz o Senhor dos Exércitos, nem aceitarei oferta da vossa mão”, porque a qualidade das ofertas carregavam em si o desprezo, a falta de temor, a negligência que o povo tinha para com Deus.
Atualmente, devido à associação errada de honra com dinheiro, os adeptos da prosperidade ensinam que quanto maior for o dízimo ou oferta, maior será a honra. Quanto mais dinheiro você der à igreja, mais Deus se sentirá honrado, compreende? Isso está biblicamente ERRADO! Não é essa a cobrança que Deus faz no livro de Malaquias.
Os dízimos e ofertas são símbolos da relação de fé do ser humano para com Deus. Essa fé, por sua vez, não tem a ver com obras, mas com o RECONHECIMENTO e consequente respeito do ser humano em relação a Deus. Ou seja, dízimos e ofertas devem ser a CONSEQUÊNCIA de quem reconhece a Deus como soberano, fonte da criação e, portanto, mantenedor da vida.
Nesse caso, os dízimos simbolizam a dependência humana em relação a Deus, onde o maior beneficiado não é Deus, porque Ele não precisa de recursos, mas sim nós, que precisamos de meios para sustentar as nossas atividades pessoais, comunitárias, ajudar pessoas, etc.
Existe alguma diferença – prática – desse entendimento para o que se prega na ideologia da prosperidade? Sim, vejamos:
Na ideologia da prosperidade o respeito, o temor e “amor” a Deus estão CONDICIONADOS ao que Deus pode fazer pelas pessoas, ou seja, Deus é nada mais que uma moeda de troca. Assim também é a relação da pessoa com esse “deus”, uma relação de troca.
Por isso o religioso diz: “Darei o dízimo para que Deus possa me abençoar”, condicionando a GRAÇA e a HONRA de Deus à mísera capacidade humana de ofertar um bem material.
A pessoa que acredita nessa heresia jamais poderá ter seus planos frustrados, pois não é Deus o seu Senhor, mas a sua própria vaidade. Deus é apenas aquele que deve estar disponível para cumprir os desejos dessa pessoa, caso contrário, não será adorado, nem reconhecido como Deus.
A “semente” que Paulo se refere em 2 Coríntios, capítulo 9
Devido a essa relação de troca, os adeptos da teologia da prosperidade citam também 2 Coríntios capítulo 9, querendo justificar sua heresia. Nessa passagem eles pegam o trecho onde está escrito “e digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará”, para ensinar que Paulo está se referindo a dinheiro e que por isso quanto mais você der, mais prosperidade (dinheiro) vai colher.
Ora, será mesmo que Paulo está se referindo a dinheiro?
Na verdade, Paulo sabiamente se refere a um tipo de “semente”. Uma análise contextual e honesta do capítulo 9 nos faz compreender que essa “semente” não diz respeito especificamente a dinheiro, mas à BOA VONTADE (ves 2, 7), ao SERVIÇO (ves 8, 10, 11), à HOSPITALIDADE (ves 13) e ao CUIDADO (ves 2).
Ou seja, assim como em Malaquias, a ênfase textual posta por Deus aqui – mediante Paulo – não está no dinheiro, no “quanto”, mas na RAZÃO, no PROPÓSITO, na DISPOSIÇÃO e principalmente na COMPREENSÃO da importância de se doar em favor de uma obra ou pessoa.
Perceba que em todo o capítulo, Paulo não enfatiza o valor monetário das doações, mas sim o SENTIMENTO dos coríntios de querer ajudar, contribuindo para a pregação do evangelho. A lei da semeadura aqui, portanto, não traz a ideia de RIQUEZA como prioridade, ou prosperidade material como importância, mas sim a JUSTIÇA (ves 8,10), como está escrito no versículo 11:
“Para que em tudo enriqueçais para toda a beneficência, a qual faz que por nós se dêem graças a Deus”.
As sementes, portanto, são sementes de justiça pela qual os frutos serão igualmente de justiça, e a riqueza, seja ela material ou não, apenas consequências de quem tem um coração disposto a servir.
O caso Ananias e Safira
Outra passagem clássica citada pelos “teólogos da prosperidade” está em Atos capítulo 5, versículos de 01 ao 11, conhecida como “O Caso Ananias e Safira”. Nesta passagem, os adeptos da prosperidade afirmam que a morte do casal ocorreu pelo fato de terem “roubado a Deus”, dando apenas parte do valor arrecadado com a venda da propriedade.
Essa é mais uma interpretação ERRADA e tendenciosa das escrituras. Olhe o que diz o Apóstolo Pedro no versículo 03:
“Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade?”. Logo em seguida Pedro continua dizendo:
“Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus.”
Ora, a retenção do preço foi uma consequência da avareza/ganância, ou mesmo arrependimento de Ananias em ter vendido sua propriedade. Este sentimento o levou a MENTIR para o Espírito Santo.
O versículo 04 deixa claro que se Ananias e Safira quisessem, poderiam ficar com TODO o dinheiro, (“Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder?”) bastaria apenas que não MENTISSEM. Logo após Pedro dizer que tanto Ananias como Safira mentiram para Deus, e não para os apóstolos (foi o que eles acharam), caíram mortos.
Portanto, fica claro que o motivo da morte do casal não foi por eles terem ficado com parte do valor da sua propriedade, ou mesmo todo o valor, mas sim por eles terem blasfemado contra Deus, mentindo ao Espírito Santo.
Consequências de seguir a teologia da prosperidade
As consequências práticas na vida de quem usa “deus” como uma moeda de troca são devastadoras. Eles têm apenas aparência de sucesso. Pensam estar vivendo uma fé, quando na verdade, estão exercitando um POSITIVISMO MÍSTICO.
O olhar dessas pessoas frequentemente não é para o SERVIÇO cristão, amor ao próximo e pregação do evangelho bíblico, essência do verdadeiro cristianismo, pois a característica principal de toda doutrina que enfatiza o “poder”, a riqueza, a aparência, está em si próprio.
O egoísmo, a insensibilidade, narcisismo, apatia social e relacionamentos condicionais são, portanto, marcas visíveis na vida desses religiosos. Toda a alegria e palavras de “fé” estão baseadas em conquistas pessoais. Tão volátil e frágil é o estado de espírito (e “fé”) dessas pessoas, quanto a velocidade que trocam de aparelho celular, pois a razão da sua fé não está fundada em Cristo, mas no que Deus tem a oferecer.
Por outro lado, quem reconhece a Deus pelo que Ele É, fonte da criação, Ser de Vontade e Inteligência únicas, amando-O, temendo e adorando-O por isso, desenvolve um relacionamento com Ele de SUBMISSÃO, baseado no respeito à sua AUTORIDADE.
Dizimar e ofertar não possui o “peso da lei”, como era no Antigo Testamento, mas sim o compromisso MORAL para o qual a lei apontava e se cumpre em Cristo, personificação da Nova Aliança. É a moralidade de “entregar a Deus tudo o que tem” não em dinheiro, mas em caráter, confiança, temor, respeito, prestando honras a Deus com sua própria vida.
Finalmente, dízimos e ofertas são necessários?
Sim, para a manutenção das obras que uma igreja desenvolve (oferta ao templo). Para sustentação das pessoas que dedicam suas vidas exclusivamente para o sacerdócio (oferta aos levitas). Para o auxílio às pessoas carentes da comunidade (oferta aos pobres).
Para o desenvolvimento de projetos sociais. Para a divulgação dos ensinos religiosos da sua religião, através de folhetos, revistas, livros, rádios, TV, etc. Em todos esses casos os dízimos e ofertas são necessários, pois cumprem uma função SOCIAL, burocrática, além da própria experiência de fé, ao saber que se você pode ofertar, dizimar, é porque Deus lhe deu condições para isso.
Mas é pecado não dizimar, nem ofertar?
Não! O dízimo no Novo Testamento (aliança) é uma prática da igreja em continuidade ao costume da lei judaica, uma recomendação social dos Apóstolos para sustentação e expansão da Igreja Cristã. Não é uma lei ou ordenança, como fora no Antigo Testamento, sob risco de punição para os que não a cumprissem, mas apenas uma RECOMENDAÇÃO.
Na verdade, até mesmo no Antigo Testamento as leis tinham o objetivo de apontar para uma causa moral, ética, e não punitiva. Em Cristo essa lei alcança sua plenitude.
O coração humano, suas intenções e “verdades” é que passam a ser julgados, e não o mero cumprimento de uma regra. Dessa forma, quem dá o dízimo pensando estar cumprindo um mandamento, mas não tem boas intenções aos olhos de Deus, peca!
Mas quem dá o dízimo por entender a relação de fé implícita nesse gesto, bem como a importância social atribuída a ele, acerta e experimenta a alegria de poder saber, dia após dia, que Deus realmente cumpre o que promete, como diz em Malaquias 3:10, não por uma relação de troca, mas por reconhecimento, honra e submissão.
O exemplo da viúva pobre em Marcos 12:41-44 sobre a natureza da oferta e dízimos
Diferente do que os pregadores da prosperidade ensinam, a viúva pobre não deu tudo o que lhe restava esperando receber algo em troca, mas porque sua fé, confiança e intenção do coração, lhe permitiu honrar a Deus acreditando que Ele é quem sustenta sua vida, e não suas riquezas.
Por isso Jesus enfatizou: “Em verdade vos digo que esta viúva pobre depositou no gazofilácio mais do que o fizeram todos os ofertantes. Porque todos eles ofertaram do que lhes sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo quanto possuía, todo o seu sustento.”
Perceba que a relação exposta de modo implícito aqui não é de troca, benefício, investimento, mas sim de CONFIANÇA, FÉ e HUMILDADE, visto que numericamente a oferta da viúva era muito inferior a dos outros ofertantes.
Portanto, o exemplo nessa passagem trata de humildade para saber que Deus não se importa com o valor, a quantidade, mas a SINCERIDADE e as INTENÇÕES. O pouco para os homens foi MUITO para Deus.
A viúva pobre resume toda a exortação de Deus aos Sacerdotes de Israel no livro de Malaquias. Ela exemplifica com qual entendimento devemos ofertar e dizimar. Neste sentido, os 10% (dízimo) perde o seu efeito, pois não importa se mais, menos ou tudo, o que importa é o propósito, o coração de quem doa.
Finalmente, a prosperidade bíblica é real, mas ela está fundamentada nos valores morais, na vida, nas intenções, de modo que qualquer ganho material alcançado deve ser apenas uma consequência disso, e não um objetivo em si mesmo. Cabe a você agora conhecer melhor e julgar, segundo a bíblia, os líderes do nosso tempo, para reter o que é bom e descartar o que for ruim.