Entendendo o “firme fundamento” da fé cristã descrito em Hebreus

Talvez um dos versículos mais citados das escrituras bíblicas para explicar a compreensão de fé, tanto de cristãos como não cristãos, está em Hebreus 11:1, onde lemos que “a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem”.

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Com base nessa passagem, assim como na do livro de 2 Coríntios 5:7, onde também lemos que “vivemos por fé e não pelo que nos é possível ver”, muitos desenvolveram uma compreensão equivocada sobre o significado da “fé” como ferramenta espiritual.

Quando nos referimos a significado, queremos dizer FUNÇÃO, porque a fé é um exercício, uma prática da vida espiritual cuja religião muitas vezes não passa de um norteador dessa experiência.

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Todavia, nosso interesse aqui é compreender a fé na perspectiva bíblica cristã, com o objetivo de desmitificar muitos ensinos errôneos sobre esse importante conceito doutrinário. Faremos isso de forma simples e objetiva, ok?

Fé cega não é fé, mas crença

O termo “fé” tem sido utilizado para dar sentido e, aparentemente, “justificar” muitas heresias. Não é um fenômeno recente, pelo contrário! Esteve presente na vida religiosa e no meio cristão já nos primeiros séculos da Igreja, quando, por exemplo, foi através da manipulação da fé que se estabeleceu o comércio das indulgências.

Bem antes disso, em Malaquias 3:10, por exemplo, Deus adverte os Sacerdotes que roubavam o dízimo da “Casa dos Tesouros”, mostrando que já naquela época a fé era explorada pelos falsos “mestres”.

Atualmente, todavia, a fé é explorada de forma midiática e, portanto, em escala global, de formas tão absurdas quanto às da era bíblica e medieval, porém, não mais por uma “igreja oficial”, mas por inúmeras denominações (e religiões).

O motivo de tantas pessoas serem exploradas por meio da fé são vários, mas um em especial se destaca: o desprezo pelo que fundamenta a fé!

Se você perguntar a uma pessoa a razão dela acreditar que gato preto trás maldição, ou do por que sandália virada é sinal de morte na família, certamente essa pessoa não saberá responder. Sua explicação mais provável é a de “porque sim”.

Esses exemplos parecem banais para você? É fácil perceber o quão absurdo é, ter fé (crença), em algo sem fundamento? Mas, se lhe dissermos que esse tipo de “fé” não tem diferença alguma de quem acredita, por exemplo, que fazer o sinal da cruz, amarrar terço no braço, deixar bíblia aberta na estante da casa, beber água “ungida”, pular ondas do mar, ler textos sagrados em voz alta e tantos outros HÁBITOS RELIGIOSOS, não trazem nenhum tipo de proteção ou sorte real, você concordaria?

Quanto mais comuns são às tradições, menos percebemos o quanto a é mal compreendida, porque elas já estão tão entranhadas na cultura popular, nos usos e costumes, de maneira tal que a religiosidade é vivenciada quase no automático, sem o exercício do juízo crítico sobre elas.

O religioso, então, tem por experiência espiritual (espiritual?) o poder do simbolismo da sua religião. Tal poder, na prática, envolve o uso de ferramentas subjetivas da mente produzindo efeitos terapêuticos de conforto emocional/psicológico.

O que se diz “fé”, na realidade, não passa de crença, e nesse quesito fé e crença se diferenciam conceitualmente de forma radical. Isso porque, em diversas culturas religiosas a fé não é atribuída a uma razão, um fundamento com bases sólidas de caráter histórico, antropológico, geográfico, etc.

Ou seja; algo que se respalda por diversas linhas do conhecimento, mas sim em costumes, tradições (orais na maioria), mitos, lendas e supostas “revelações” que não são possíveis de serem averiguadas por outras vertentes do saber, e por isso sempre contraditórias em si mesmas. Isto é a crença!

A doutrina bíblica cristã, por outro lado, possui fundamento “palpável”, pois não se abstrai no tempo, mas pelo contrário, tem no próprio espaço-tempo e variação cultural a autenticação da sua solidez doutrinária quando se perpetua na história e ganha corpo à medida que através do avanço científico vamos confirmando muito do que, de forma primitiva, a bíblia já declarava ser e/ou existir.

Para quem se refere às narrativas bíblicas como mitos, por exemplo, é seguramente possível reconsiderar, compreendendo que seu corpo doutrinário é o único que, como “mito”, se fez história.

Em outras palavras, tendo em vista que o ápice do antigo e novo testamentos é a pessoa do Messias prometido, lado a milhares de outras narrativas messiânicas de religiões cívicas diversas que não tiveram seu “cristo” histórico, senão apenas lendas (Osíris-Hórus, etc), o cristianismo tem, em Jesus Cristo, a materialidade histórica e, portanto, “palpável”, de um “mito” que andou entre nós, servindo de fundamento observável daqueles que confirmaram sua autenticidade de modo extra-bíblico, ao mesmo tempo que confirma a expectativa comum entre os povos para a origem das lendas pagãs.

Ora, com isso vemos uma característica marcante entre fé e crença: a fé encontra apoio no avanço do conhecimento e se cristaliza com o passar do tempo, conforme vão sendo mais compreendidos os seus fundamentos.

A crença, por outro lado, não resiste ao tempo, muito menos aos avanços do conhecimento, se revelando cada vez mais frágil e de caráter “folclórico”, menos substancioso, cada vez mais mítico e emocional do que racionalmente compreensível.

A “fé” cega (ou seja: a crença!) é uma fábrica de misticismo e heresias que surge conforme a necessidade e fragilidade emocional/intelectual do povo e inclinação pessoal de quem a professa.

É por essa fé cega, que, segundo a perspectiva BÍBLICA cristã, seitas como a Universal do Reino de Deus, Mundial do Poder de Deus, Plenitude do Trono de Deus e teologias setoriais (correntes de pensamento dentro da teologia), como a Teologia de Confissão Positiva, Teologia da Libertação, Teologia Feminista, Inclusiva e outras, surgem quando CRISTO NÃO É O FUNDAMENTO de suas doutrinas, mas apenas uma figura de fundo, a fim de que sirva de sustentação para outros interesses.

Os adeptos dessas seitas ou correntes de pensamento se diferenciam apenas na forma de “crença”, práticas, usos e costumes, mas a razão pela qual todas existem é a ausência de uma fé que tem CRISTO como único fundamento. Cristo, nesses exemplos, serve apenas como um meio para fundamentar a crença que, em si mesma, desvia-se do Cristo bíblico.

O perfil desviante desses adeptos é o que lhes torna diferentes, mas a razão pela qual são desviantes é uma só: Cristo não é o fundamento da fé! No lugar dele estão os ideais humanos.

Em outras palavras, quem comercializa “toalhinha ungida”, ensina “cair no espírito” ou faz uma leitura da bíblia sob às lentes do marxismo, não é diferente de quem acredita em maldição do gato preto, pois em todos esses casos se Cristo não é o fundamento, logo, na perspectiva bíblica, SUA FÉ NÃO POSSUI FUNDAMENTO – ela é uma crença ou uma ideologia!

Cristo, o Autor e Consumador da Fé

O erro crasso de interpretação de Hebreus 11:1 está no desprezo pela afirmação inicial do versículo, quando diz que a fé é o “…firme fundamento”.

É comum o leitor associar esse fundamento à fé, imaginando que a fé, por si só, é um fundamento, quando, na verdade, ela é apenas o meio de contato entre nós e o que é, de fato, o verdadeiro fundamento: CRISTO!

A dificuldade de enxergar este ensino na passagem é devido ao fato do nome Jesus ou Cristo não aparecer no trecho. O que existe apenas é uma referencia à palavra “fé”. Desse modo o leitor que não possui o hábito de ler a bíblia de modo contextual, compreendendo-a como sendo uma mensagem única e centrada na pessoa do Messias (Cristo), não enxergará a pessoa de Cristo implícita na passagem, como sendo Ele o fundamento, e não a ideia abstrata de “fé”.

Mas, como vemos isso de modo contextual na bíblia? Como é possível dizer que o fundamento da fé expresso na passagem se refere a Cristo? Comece fazendo a seguinte leitura:

“Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós.” 1 Pedro 3:15

A passagem acima deixa claro que para responder a todo aquele que lhe pedir a RAZÃO DA ESPERANÇA que há em você, ou seja, da sua FÉ, é preciso antes santificar a CRISTO como SENHOR em seu coração. Aqui está a resposta das perguntas acima: Jesus é o fundamento do qual se refere Hebreus 11:1.

A fé do cristão, portanto, não é algo abstrato, mas sim racionalmente compreensível, pois está diretamente relacionado à pessoa de Jesus Cristo, uma vez que Ele é o próprio fundamento da fé. O Messias, sendo ao mesmo tempo uma figura histórica e divina, nos permite acreditar em algo “concreto” e não em narrativas míticas ou invenções pessoais.

Este é, portanto, o fundamento da fé cristã: Jesus Cristo e tudo o que Ele acarreta. É por isso que temos a Bíblia Sagrada como único manual de regra, fé e prática, visto que é por ela que sabemos sobre a vida e ensinamentos do Messias, incluindo o Antigo Testamento, o qual traz o Filho de Deus implicitamente em suas narrativas.

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